A maioria no tribunal eleitoral brasileiro considera o ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro culpado de abuso de poder.
A maioria no mais alto tribunal eleitoral do Brasil votou para impedir o ex-presidente Jair Bolsonaro de ocupar cargos públicos até 2030 por causa de sua conduta durante as eleições acirradas do ano passado.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), composto por sete membros, votou por cinco a dois na sexta-feira para condenar o líder de extrema-direita por abuso de poder em seu esforço para lançar dúvidas sobre o sistema de votação eletrônica do país sul-americano.
Bolsonaro foi acusado de reunir seus apoiadores para rejeitar sua derrota estreita para o presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro, culminando em um ataque a prédios do governo no início deste ano.
A decisão do tribunal – uma vez concluída a votação de todos os ministros – significa que Bolsonaro não poderá disputar as eleições presidenciais de 2026, desferindo um duro golpe no futuro político do homem de 68 anos.
Na sexta-feira, ele descreveu a decisão como uma “punhalada nas costas” e prometeu continuar trabalhando para promover a política de direita no Brasil.
Em entrevista à rádio Itatiaia antes do julgamento desta sexta-feira, Bolsonaro também rejeitou qualquer irregularidade. “Não ataquei o sistema de votação; Eu apenas mostrei suas possíveis falhas”, disse ele. “Este julgamento não faz o menor sentido.”
Monica Yanakiew, da Al Jazeera, reportando do Rio de Janeiro, disse que o ex-presidente já sinalizou que pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal, mas é improvável que o tribunal decida a seu favor.
“Esta decisão significa que ele não poderá concorrer ao cargo até 2030”, disse Yanakiew na sexta-feira.
“Isso não significa que ele não seja um jogador político”, acrescentou. “Ele ainda tem muita popularidade.”
O caso se concentrou em uma reunião de 18 de julho de 2022, na qual Bolsonaro usou funcionários do governo, o canal de televisão estatal e o palácio presidencial em Brasília para dizer a embaixadores estrangeiros que o sistema de votação eletrônica do país era fraudado.
O ministro titular do caso, Benedito Gonçalves, disse no início desta semana que Bolsonaro “aproveitou a reunião com os embaixadores para espalhar dúvidas e incitar teorias da conspiração”.
“Ele instigou a crença de que havia uma ameaça real de que os resultados das eleições de 2022 seriam adulterados”, disse Gonçalves. “Foi extremamente prejudicial ao ambiente democrático.”
Ex-capitão do Exército, Bolsonaro perdeu por pouco as eleições presidenciais do ano passado, obtendo 49,1% dos votos, contra 50,9% de Lula.
Bolsonaro repetidamente lançou dúvidas sobre o sistema de votação do Brasil antes da disputa, alegando, sem nenhuma evidência, que era vulnerável a fraudes em massa.
Críticos disseram que sua campanha refletia as táticas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – a quem Bolsonaro imitou – e muitos acusaram o ex-presidente brasileiro de fomentar um movimento nacional para derrubar os resultados.
Os apoiadores de Bolsonaro ergueram bloqueios de estradas e organizaram protestos após sua derrota e, em 8 de janeiro, uma multidão de milhares invadiu o Congresso, o Supremo Tribunal e o palácio presidencial do Brasil em um esforço para contestar o novo governo de Lula.
Carlos Melo, professor de ciências políticas da Universidade Insper, em São Paulo, disse que a decisão da Justiça Eleitoral na sexta-feira “vai acabar com as chances de Bolsonaro ser presidente novamente, e ele sabe disso”.
“Depois disso, ele tentará ficar fora da cadeia, eleger alguns de seus aliados para manter seu capital político, mas é muito improvável que ele volte à presidência”, disse Melo à Associated Press.
Embora Bolsonaro não arrisque a prisão no caso eleitoral, ele enfrenta separadamente várias investigações criminais que podem colocá-lo atrás das grades.
Já o ministro da Justiça, Flavio Dino, comemorou a decisão da Justiça Eleitoral.
“Algumas mensagens importantes vêm do julgamento do TSE: a mentira não é uma ferramenta legítima para o exercício de uma função pública e a política não é regida pela lei da selva”, tuitou Dino. “A democracia superou seu teste de estresse mais difícil em décadas.”
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