O status quo do complexo da Mesquita de Al-Aqsa em Jerusalém é a razão pela qual uma única batida policial pode precipitar uma guerra total.

O status legal do complexo da Mesquita Al-Aqsa de Jerusalém, conhecido pelos judeus como o Monte do Templo, é um ponto crítico recorrente no conflito Israel-Palestina.
Na semana passada, a polícia israelense invadiu a Mesquita de Al-Aqsa, atacando e prendendo fiéis palestinos que estavam dentro do salão de orações. Foguetes foram disparados contra Israel a partir de Gaza e do Líbano em retaliação, levando a um breve surto de violência.
Em 2021, um ataque semelhante levou a um ataque israelense de 11 dias na Faixa de Gaza.
Para entender como uma única batida policial pode precipitar uma guerra, é preciso entender o status quo que rege o complexo da Mesquita de Al-Aqsa.
Qual é o status quo?
Para os palestinos – e sob a lei internacional – a questão é bastante simples.
“Israel não tem soberania sobre [East] Jerusalém e, portanto, não tem soberania sobre Al-Aqsa”, que fica na Jerusalém Oriental ocupada por Israel, diz Khaled Zabarqa, um especialista jurídico palestino na cidade e no complexo. Consequentemente, diz Zabarqa, a lei internacional determina que Israel não está autorizado a implementar qualquer status quo.
Para os palestinos e o Waqf, o órgão nomeado pela Jordânia que administra o complexo de Al-Aqsa, é um status quo enraizado na administração do local sob o Império Otomano, que ditava que os muçulmanos tivessem controle exclusivo de Al-Aqsa, de acordo com Nir Hasson, um jornalista do Haaretz cobrindo Jerusalém.
Os israelenses, no entanto, veem as coisas de maneira diferente, apesar do direito internacional não reconhecer qualquer tentativa de uma potência ocupante de anexar o território que ocupou.
“O status quo de que falam os israelenses é completamente diferente do status quo de que falam o Waqf e os palestinos”, explica Hasson.
Para Israel, o status quo refere-se a um acordo de 1967 formulado por Moshe Dayan, ex-ministro da Defesa de Israel. Depois que Israel ocupou Jerusalém Oriental, Dayan propôs um novo acordo baseado no acordo otomano.
De acordo com o status quo de Israel em 1967, o governo israelense permite que o Waqf mantenha o controle diário da área, e apenas os muçulmanos têm permissão para rezar lá. No entanto, a polícia israelense controla o acesso ao local e é responsável pela segurança, e não-muçulmanos podem visitar o local como turistas.
Shmuel Berkovits, advogado e especialista em lugares sagrados em Israel, diz que o status quo estabelecido em 1967 não é protegido por nenhuma lei israelense. De fato, em 1967, Dayan estabeleceu o status quo sem a autoridade do governo, diz ele.
Desde 1967, a legislação, ações judiciais e declarações do governo israelense criaram uma estrutura para esse status quo. Embora nenhuma lei israelense proíba os judeus de rezar em Al-Aqsa, a Suprema Corte de Israel decidiu que a proibição é justificada para manter a paz, explica Berkovits.
Para muitos israelenses, até isso é considerado “generoso”, à luz de sua vitória na guerra de 1967.
Mudanças recentes no status quo
Entre 1967 e 2000, os não-muçulmanos podiam comprar ingressos do Waqf para visitar o local como turistas. No entanto, depois que a segunda Intifada, ou revolta, dos palestinos estourou em 2000, após a contenciosa visita do ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon a Al-Aqsa, o Waqf fechou o local para visitantes.
O local permaneceu fechado para visitantes até 2003, quando Israel forçou o Waqf a concordar com a entrada de não-muçulmanos. Desde então, os visitantes não-muçulmanos foram restringidos pela polícia israelense a horários limitados e dias específicos.
Segundo Hasson, o Waqf não reconhece esses visitantes e os considera “intrusos”.
Em 2015, um acordo de quatro vias entre Israel, Palestina, Jordânia e os Estados Unidos reafirmou o status quo de 1967. Como parte do acordo, o líder israelense Benjamin Netanyahu reafirmou o compromisso de seu país com o status quo.
Embora a versão de 1967 do status quo ainda seja divulgada da boca para fora hoje, Zabarqa diz: “Esta é uma tentativa de enganar a opinião pública internacional”.
Desde 2017, os judeus foram tacitamente autorizados a rezar no complexo, de acordo com Eran Zedekiah, da Universidade Hebraica de Jerusalém e do Fórum Regional de Pensamento.
Nem todos os judeus são culpados dessas violações. De fato, antes de entrar no complexo de Al-Aqsa, os visitantes passam por uma placa alertando os judeus de que o Rabinato Chefe os proíbe de entrar por causa da santidade do local.

São principalmente os sionistas religiosos, atualmente representados no governo de Israel por radicais como o ministro da Segurança de extrema direita, Itamar Ben-Gvir, que rezam no local e fazem pressão para mudar o status quo, diz Hasson.
Para eles, essa pressão valeu a pena. Hasson diz que a polícia deu mais liberdade aos judeus que rezam no complexo de Al-Aqsa desde 2017.
Zabarqa lamenta que a força policial israelense “transformou-se de um corpo profissional que preserva o estado de direito para um corpo que fornece proteção para pessoas que infringem a lei”.
Os palestinos, por sua vez, veem essas mudanças como uma tentativa de “tornar o complexo judeu e expulsar os muçulmanos e o islamismo de Al-Aqsa”, diz Zabarqa.
Para eles, Al-Aqsa é o último pequeno canto da Palestina que não está sob plena ocupação israelense.
Hasson diz que os palestinos se orgulham de resistir à ocupação israelense do local, mas se os palestinos perderem Al-Aqsa, será como se “está tudo perdido. Não sobrou nada.”
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